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Relato de viagem
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Do Litoral de Guarujá-SP até Fortaleza-PE - As Origens do Brasil

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AS ORIGENS DO BRASIL

        Chegamos em Eunápolis, onde há uma oficina Honda; trocamos o óleo das motos, e vimos uma coisa curiosa: um cara chamado Oliveira montou numa bicicleta de entregas uma bateria de carro, 4 alto-falantes, um gravador com microfone e um amplificador. Percorre a cidade fazendo propaganda para o comércio local, sob o nome de Divulgadora Oliveira....Uma advertência: o Cheque Especial, embora não haja diferença, com Cheque Ouro ou Cheque Azul, não é tão bem aceito nestas regiões; é bom falar antes...

        Passamos no lugar onde o Cabral descobriu o que hoje ainda estamos descobrindo. São 484 anos de enrolação para índio nenhum botar defeito. Procuramos um camping, que por sinal foi um dos melhores: US$3,00 por dia, no meio dos coqueiros, com banho de água quente e um atendimento espetacular, chama-se Mundai Praia Camping. O Antônio Carlos foi pescar, e eu fiquei conversando com algumas cervejas. Afinal, a noite havia uma festa. Depois de algumas "aventuras"- o Antônio Carlos perdeu a tralha de pesca, escreveu cartas incompreensíveis, enquanto eu plantei a moto num arraial, quis entrar numa boate de moto e tudo, fui preso, solto, fui multado, desmultado (os guardas eram gente finíssima) –acordamos no dia seguinte na base do Melhoral e Sorrisal...Pegamos uma estradinha ate Nossa Senhora da Ajuda onde havia muitos romeiros. A menos de um quilômetro dali estava a praia da Ajuda e Trancoso onde o Topless e o Nadaless corriam o solto. O Antônio Carlos levou um tombo na areia; acho que estava olhando para dois Montes Pascoais na sua frente e como não havia livro para assinar, o cano de escapamento da sua moto encarregou-se de assinar a sua perna...

        Naquele dia conhecemos um casal (o Marcos e a Cida) que ia de Santos até Fortaleza de CB400. Mostramos o caminho para eles e fomos embora voltando para o camping. Antônio Carlos foi dormir e eu voltei para a festa- onde encontrei meus amigos guardas. A boate fica do lado de um farol que pisca, e lembrei daquele caminhão no escuro, que quase me levou para o inferno. Tudo isso me faz pensar que a vida é só um jeitinho.

        Até agora não usamos nenhuma vez o material de cozinha, e não aconselhamos ninguém a levá-lo a menos que disponha de muito tempo. Pois fazer comida, lavar e secar a louça, empacotar, demora muito; o material todo pesa uns dez quilos, fora o lampião, o fogareiro e os botijões de gás.

        No dia seguinte – eu de ressaca- fomos para Camaçã, pela BR101 e depois, uma estradinha secundária no levou por Una, Olivença, até Ilhéus. Estas estradas são ruins porém as praias são lindíssimas, sem turistas e o povo é bem hospitaleiro. Voltamos a BR101 e fomos ate Gandu, onde passamos a noite. De manhã, fomos até Santo Antônio de Jesus e dali para Ilha de Itaparica num lugar chamado Caixa Prego (Olhe só no mapa).

         Na praia Brava onde há um camping sem muito comforto nem água quente, porém com um atendimento fabuloso, onde comemos moqueca de lagosta por US$8,00 para duas pessoas!. O camping custa US$2,00 por pessoa. Jantamos com uma turma e demos boas risadas: realmente o baiano é gente fina, bem descontraído, não tem essas neuroses que acabam com a gente...Fomos dormir tarde. Como eu não estava a fim de montar a minha barraca, dormi na do Antônio Carlos, que ele tinha montado,(barraca tão pequena que não tinha espaço nem para mudar de idéia) e ele dormiu ao ar livre, na noite de lua cheia...

          Acordamos cedo e fomos para a balsa, que liga a ilha a Salvador ( uma hora de travessia custa quase US$3,00 por moto). Em Salvador, procuramos imediatamente a saída para Aracaju. Há muitos ladrões em Salvador, de olho nos turistas desavisados. Além disso, os motoqueiros de fora não são bem-vistos pela polícia local...À tarde, chegamos em São Cristóvão, a 30 quilômetros de Aracaju. É uma cidade histórica com igrejas muito lindas, com altares em jacarandá talhados com canivete. O mais curioso é que uma das igrejas tem duas grandes portas de barro imitando madeira.

 

        MAIS POLÍCIA...

        Entramos em Aracaju e fomos direto para a praia de Atalaia. Foi ali que, tomando a cerveja da paz, conhecemos uma figura que nos acompanharia por um longo trecho da viagem: o Araújo trabalha num banco em Brasília, e estava viajando de CB 400. Comemos o melhor caranguejo da região no bar do Vaqueiro, cujo dono gentilmente nos ofereceu seu sítio para dormirmos. Chegando lá, o Antônio Carlos sentou numa cadeira- preguiça e dormiu ali mesmo. O Araújo armou sua rede, e eu, de sarro peguei meu facão e coloquei-o no colo do Antônio Carlos para ele proteger nosso sono.

        Enquanto dormíamos, chegou a polícia que nos acorda; Antônio Carlos levantou de facão na mão, e um revólver na cara. Uma vizinha tinha ligado para avisar que pessoas haviam invadido o sítio...Conversei com os policiais, dizendo que se alguém tinha invadido alguma coisa eram eles, pois nós não tínhamos saído lá do sul para invadir uma propriedade em Aracaju. Neste tempo o Antônio Carlos voltou a dormir. Dez minutos depois, tudo ficou esclarecido e os policiais foram embora, pedindo desculpas, dando boa noite e devolvendo o facão, que coloquei novamente no colo do Antônio Carlos que dormia com o farol do carro de polícia na cara dele. A polícia nos tratou bem, na verdade sé apareceu por causa do telefonema, para averiguação. Obrigado e boa noite....

        Saímos cedo no dia seguinte, atravessamos o rio São Francisco pela primeira vez, passando por Penedo, Praia do Peba, Coruípe, até Poxim, e chegamos na fazenda de um amigo do Antônio Carlos.

        A noite, este foi pescar e virou a jangada, todo o material de pesca se foi pelas águas...Deixei na fazenda os oito quilos de farofa que eu trazia na bagagem desde São Paulo. Enquanto o Antônio Carlos ficava na fazenda, o Araújo e eu fomos até Maceió, onde há um camping Clube do Brasil. A Secretaria de Turismo de Alagoas dá um passe para você entrar no camping como se fosse sócio, pagando a taxa mínima (US$4,00). Como sempre, o guarda nos olhou com cara de quem comeu e não gostou...

           A noite fomos dançar forró nas boates dos hotéis de luxo. O meu fígado ficou reclamando bastante. No dia seguinte, mandei pelo correio todo o material inútil que levamos: lampião, fogareiro, panela, talheres, etc. De agora em diante, viajamos mais "leves". Á noite, mesmo programa, mesmo protesto do fígado. Mais um dia em Maceió: fomos numa oficina para regular as válvulas da XL do Antônio Carlos, que parecia uma batedeira elétrica. Decidimos partir no dia seguinte.

 

               Na hora de sairmos, chegou o Marcos e a Cida, bastante traumatizados por dois tombos levados em Salvador. Demos forças a eles, e eles resolveram continuar com a gente. Mal rodamos 100 quilômetros, fura um pneu da CB do Marcos. Ele disse que se virava sozinho, e fomos embora até o Recife, onde não paramos.

        Passamos por Olinda, e à noite chegamos em João Pessoa. Como o camping clube do Brasil não tinha convênio com a Secretaria de Turismo, ficamos num hotel quase em frente do famoso Hotel Tambaú, quarto para duas pessoas US$16,00, com ventilador. Conhecemos o Dr. Jader, que é tio do paraibinha, o piloto de cross. De manhã tomamos o café no hotel (incluído na diária), e demos uma olhada no óleo das motos: a de Antônio Carlos estava sem um pingo. Como era domingo, demoramos para encontrar óleo- o Jader nos ajudou: ele é um dos líderes do motociclismo em João Pessoa. Ficamos tomando muita cerveja juntos. Os motoqueiros de lá são muito unidos, não há discriminação entre 125, 250, 400, o que for...

        No dia seguinte- já estamos há 18 dias na estrada –o Antônio Carlos acorda meio verde, e eu amarelo, devemos ser muito patriotas...Chegam finalmente o Marcos e a Cida, ficamos todos dormindo nas cadeiras tipo beira de piscina. O gerente do hotel não entendeu, pagamos a conta ás 7 horas, e levantamos das cadeiras ao meio-dia, quando o efeito das caipirinhas e das cervejas do dia anterior tinha baixado a um nível seguro para uma boa navegação pela BR 101.

        De João Pessoa até Natal é uma reta só. Em Natal, como era cedo, decidimos continuar ate Mossoró. O Marcos reclamou que a Cida estava cansada, não era para menos. Ambos estavam feridos por causa dos tombos, além do que andar de garupa é bem mais cansativo do que sem. Tiramos o chapéu para os dois, foi muita coragem. Em Açu, paramos num posto para reabastecer as motos e os estômagos, e percebemos que o posto tinha um dormitório bem confortável e por menos de US$4,00 por pessoa. Já que íamos dormir ali mesmo, os fígados tiveram que agüentar mais um pouco.

        Acordamos bem cedo, fomos para Mossoró, onde todo mundo foi para o seu respectivo banco retirar dinheiro. O Antônio Carlos parou na frente do seu banco, onde era proibido parar, mas o guarda ficou de olho na moto porque em volta dela juntaram-se umas 50 pessoas.

 

                Quando juntamos as três motos, o número de curiosos passou para 100... Saímos em direção ao Ceará. Fomos até Aracati, na praia de Canoa Quebrada onde se pode alugar uma rede para dormir. A paisagem era simplesmente lindíssima. Na praia de Marjolândia, alugamos um apartamento de dois quartos, cozinha e sala por US$20,00 para os quatro (tínhamos perdido o Araújo em Maceió para uma namorada....) e fomos tomar umas cervejas com tira-gosto de peixe.

        Havia um jeque por ali, e o Antônio Carlos apostou duas cervejas que eu não montaria nele. Fui lá, montei no jegue que saiu pulando por todos os lados e entrou num barzinho–por onde ele entrou eu não passava. O pessoal saiu correndo e eu caí em pé. Aí o Antônio Carlos apostou mais duas cervejas que montaria num porquinho que passava ali na praia; saiu com o Marcos correndo atrás do porquinho. Nunca na minha vida ri tanto; o pessoal nativo se rolava de rir; foi um sarro monumental...

        No dia seguinte, acordamos com o Araújo na porta do apartamento. Tinha dormido em Canoa Quebrada, e ouviu falar que haviam motos em Marjolândia, e veio conferir. Pela primeira vez "iríamos" viajar os cinco juntos. Digo iríamos porque o Antônio Carlos resolveu pedir um desenho, com areia dentro de uma garrafa, da tatuagem que tem no braço. Perdi a paciência e fui embora sozinho. Passei por Aracati e fui até Fortaleza pela beira do mar. Cheguei direto a famosa praia do Futuro, onde a casquinha de caranguejo não perdeu a qualidade. Fui para o camping do Professor, e as cinco da tarde chegaram os outros quatro. A tatuagem da águia parecia mais um urubu....

 



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