REVISTA MOTOSHOW Nº.22 DEZEMBRO

DO LITORAL

DE GUARUJÁ ATÉ FORTALEZA

UMA BOA OPÇÃO DE FÉRIAS

 

 

               As férias estão chegando. Você está planejando uma viagem pelo litoral brasileiro, acompanhando as praias, com talvez uma volta pelo sertão?    Então leia com atenção a reportagem dos nossos dois amigos, que fizeram este roteiro completo no último mês de setembro (a história é contada pelo João Gonçalves Filho, o "Gaúcho").

 

        A idéia de viagem surgiu aproximadamente no mês de junho. A gente tinha-se encontrado numa viagem pelo Oeste do Brasil, indo para Cuiába, Porto Velho e Manaus (ver Motoshow nº.5, "Uma voltinha úmida pelo Brasil"), pela BR364, hoje asfaltada. Decidimos ir acampando e fazendo nossa própria comida, e acertamos o início da viagem para o dia 20 de agosto.

        Aqui está a relação das coisas que levamos, algumas úteis, a maioria desnecessária, como veremos durante a viagem: saco de dormir, barraca para dois, lampião a gás, fogareiro a gás, lanterna, canivete, faca, facão, botas de cross, farofa, arroz, feijão, lingüiça, macarrão, sopa desidratada, cantil, máquina fotográfica, filmes, panela especial de camping com pratos, frigideira, talheres e caneca, estojo de primeiros socorros, uma garrafa de pinga, um litro de uísque Chivas Regal, 300 chaveiros, 4 calças, 10 camisas, e toda uma tralha para pesca.

        Tudo isso fez com que as motos – uma XLX e uma XL- "desaparecessem", criando até dificuldades para acharmos um lugarzinho para sentar. Foi assim que dois caras bem viajados compraram e levaram coisas que nem de carro s eleva.

        LARGADA

        Adiamos a viagem por causa do frio que fez em São Paulo. Finalmente, dia 1º de setembro, após uma noite em branco de minha parte, descemos até o Guarujá para pegar a Rio-Santos, passando pela UAB (Usina Atômica Brasileira), o famoso vaga-lume (acende–apaga -acende-apaga...) e a noite chegamos ao Rio de Janeiro, onde dormimos na casa de amigos. O dia seguinte era um domingo, decidimos andar até a gasolina acabar; pegamos o litoral – muito bonito por sinal- por estradas secundárias, passando por Saquarema, e pouco antes de Búzios, fomos parados e revistados por PMs, que até foram simpáticos; paravam cavaleiros pedindo identificação do cavalo, etc., tudo na gozação...

        Chegamos em Búzios, onde dormimos na casa de uma figura que conhecemos lá. No dia seguinte, peguei a moto, e visitei as praias pegando trilhas e vi coisas que não acreditei: mulheres que você só vê no cinema e em capas de revista, bem..."natural". Confesso que não sei de onde tirava força para empurrar a moto pelas trilhas acima.... Á noite fomos dormir num camping para sairmos cedo no dia seguinte. Em Búzios só há dois campings; o preço é de US$4,00 por pessoa, no verão este valor dobra. São legais as motos podem entrar, mas os carros têm que ficar na rua.

        Pegamos a BR101 até Campos, onde saímos para Guarapari por uma estrada de terra, que ora passa por uma usina de cana, ora se confunde com as estradas das fazendas; esta estrada chama-se Rodovia do sol. Chegamos a noite em Guarapari, e fomos procurar o Camping Clube do Brasil: além do preço exorbitante de US$10,00 por pessoa não-sócio, ainda fomos descriminados por estarmos de moto: o guarda do camping, mal-educado e mau-caráter, mandou dizer que o camping estava lotado, enquanto só havia quatro barracas montadas.

 

        Fiquei tão revoltado que eu quis comprar um título só para mostrar aquele mau caráter que quem anda de moto é gente, e não moleque sem-vergonha, o responsável não quis sequer nos receber para não vender o título. Aliás, nos três Camping Clube do Brasil onde passamos, nesta viagem, os guardas são bem grossos. O leitor que tire a sua própria conclusão...

        Fomos num outro camping a beira-mar, mais simples, custando US$2,00 por pessoa, onde a esposa do dono nos serviu pela manhã um café com pão feito em casa, dos mais gostosos que já comi.

        SUSTOS

        Tocamos até Vitória, ainda pela Rodovia do Sol, agora asfaltada, costeando o mar, e depois seguimos em direção a Bahia. Mal fizemos 40 quilômetros e lá vinha um trator andando em sentido contrário, de brincadeira(?), jogou o trator para cima do Antônio Carlos, que andava na minha frente e conseguiu frear e desviar para o acostamento, enquanto o engraçadinho fugia mato adentro. Não é preciso contar o estado de nervos que o Antônio Carlos ficou. Acabei convencendo ele a deixar para lá, e não arranjar encrenca; nós dois temos um gênio bem parecido, e sempre começamos uma discussão, mas depois tomando cerveja, voltam os risos e as brincadeiras.

 

                Entramos na Bahia debaixo de uma garoa fina; e foi minha vez de passar perto da morte, por causa da escuridão de um caminhão sem faróis, só com uma luz piscando....Fomos dormir em Itamaraju, num hotel que fica em cima de um posto de gasolina. Como as motos ficaram no posto, com um guarda armado, não tiramos a bagagem.

         De manhã, saímos cedo e fomos para o Monte Pascoal, para ver o que Pedro Álvares Cabral tinha visto alguns séculos atrás. Assinamos o livro, o que fez o Antônio Carlos filosofar: a diferença entre o Monte Pascoal e os outros morros é que o primeiro tem um livro para assinar, e os outros não têm...

 


AS ORIGENS DO BRASIL

        Chegamos em Eunápolis, onde há uma oficina Honda; trocamos o óleo das motos, e vimos uma coisa curiosa: um cara chamado Oliveira montou numa bicicleta de entregas uma bateria de carro, 4 alto-falantes, um gravador com microfone e um amplificador. Percorre a cidade fazendo propaganda para o comércio local, sob o nome de Divulgadora Oliveira....Uma advertência: o Cheque Especial, embora não haja diferença, com Cheque Ouro ou Cheque Azul, não é tão bem aceito nestas regiões; é bom falar antes...

        Passamos no lugar onde o Cabral descobriu o que hoje ainda estamos descobrindo. São 484 anos de enrolação para índio nenhum botar defeito. Procuramos um camping, que por sinal foi um dos melhores: US$3,00 por dia, no meio dos coqueiros, com banho de água quente e um atendimento espetacular, chama-se Mundai Praia Camping. O Antônio Carlos foi pescar, e eu fiquei conversando com algumas cervejas. Afinal, a noite havia uma festa. Depois de algumas "aventuras"- o Antônio Carlos perdeu a tralha de pesca, escreveu cartas incompreensíveis, enquanto eu plantei a moto num arraial, quis entrar numa boate de moto e tudo, fui preso, solto, fui multado, desmultado (os guardas eram gente finíssima) –acordamos no dia seguinte na base do Melhoral e Sorrisal...Pegamos uma estradinha ate Nossa Senhora da Ajuda onde havia muitos romeiros. A menos de um quilômetro dali estava a praia da Ajuda e Trancoso onde o Topless e o Nadaless corriam o solto. O Antônio Carlos levou um tombo na areia; acho que estava olhando para dois Montes Pascoais na sua frente e como não havia livro para assinar, o cano de escapamento da sua moto encarregou-se de assinar a sua perna...

        Naquele dia conhecemos um casal (o Marcos e a Cida) que ia de Santos até Fortaleza de CB400. Mostramos o caminho para eles e fomos embora voltando para o camping. Antônio Carlos foi dormir e eu voltei para a festa- onde encontrei meus amigos guardas. A boate fica do lado de um farol que pisca, e lembrei daquele caminhão no escuro, que quase me levou para o inferno. Tudo isso me faz pensar que a vida é só um jeitinho.

        Até agora não usamos nenhuma vez o material de cozinha, e não aconselhamos ninguém a levá-lo a menos que disponha de muito tempo. Pois fazer comida, lavar e secar a louça, empacotar, demora muito; o material todo pesa uns dez quilos, fora o lampião, o fogareiro e os botijões de gás.

        No dia seguinte – eu de ressaca- fomos para Camaçã, pela BR101 e depois, uma estradinha secundária no levou por Una, Olivença, até Ilhéus. Estas estradas são ruins porém as praias são lindíssimas, sem turistas e o povo é bem hospitaleiro. Voltamos a BR101 e fomos ate Gandu, onde passamos a noite. De manhã, fomos até Santo Antônio de Jesus e dali para Ilha de Itaparica num lugar chamado Caixa Prego (Olhe só no mapa).

         Na praia Brava onde há um camping sem muito comforto nem água quente, porém com um atendimento fabuloso, onde comemos moqueca de lagosta por US$8,00 para duas pessoas!. O camping custa US$2,00 por pessoa. Jantamos com uma turma e demos boas risadas: realmente o baiano é gente fina, bem descontraído, não tem essas neuroses que acabam com a gente...Fomos dormir tarde. Como eu não estava a fim de montar a minha barraca, dormi na do Antônio Carlos, que ele tinha montado,(barraca tão pequena que não tinha espaço nem para mudar de idéia) e ele dormiu ao ar livre, na noite de lua cheia...

          Acordamos cedo e fomos para a balsa, que liga a ilha a Salvador ( uma hora de travessia custa quase US$3,00 por moto). Em Salvador, procuramos imediatamente a saída para Aracaju. Há muitos ladrões em Salvador, de olho nos turistas desavisados. Além disso, os motoqueiros de fora não são bem-vistos pela polícia local...À tarde, chegamos em São Cristóvão, a 30 quilômetros de Aracaju. É uma cidade histórica com igrejas muito lindas, com altares em jacarandá talhados com canivete. O mais curioso é que uma das igrejas tem duas grandes portas de barro imitando madeira.

 

        MAIS POLÍCIA...

        Entramos em Aracaju e fomos direto para a praia de Atalaia. Foi ali que, tomando a cerveja da paz, conhecemos uma figura que nos acompanharia por um longo trecho da viagem: o Araújo trabalha num banco em Brasília, e estava viajando de CB 400. Comemos o melhor caranguejo da região no bar do Vaqueiro, cujo dono gentilmente nos ofereceu seu sítio para dormirmos. Chegando lá, o Antônio Carlos sentou numa cadeira- preguiça e dormiu ali mesmo. O Araújo armou sua rede, e eu, de sarro peguei meu facão e coloquei-o no colo do Antônio Carlos para ele proteger nosso sono.

        Enquanto dormíamos, chegou a polícia que nos acorda; Antônio Carlos levantou de facão na mão, e um revólver na cara. Uma vizinha tinha ligado para avisar que pessoas haviam invadido o sítio...Conversei com os policiais, dizendo que se alguém tinha invadido alguma coisa eram eles, pois nós não tínhamos saído lá do sul para invadir uma propriedade em Aracaju. Neste tempo o Antônio Carlos voltou a dormir. Dez minutos depois, tudo ficou esclarecido e os policiais foram embora, pedindo desculpas, dando boa noite e devolvendo o facão, que coloquei novamente no colo do Antônio Carlos que dormia com o farol do carro de polícia na cara dele. A polícia nos tratou bem, na verdade sé apareceu por causa do telefonema, para averiguação. Obrigado e boa noite....

        Saímos cedo no dia seguinte, atravessamos o rio São Francisco pela primeira vez, passando por Penedo, Praia do Peba, Coruípe, até Poxim, e chegamos na fazenda de um amigo do Antônio Carlos.

        A noite, este foi pescar e virou a jangada, todo o material de pesca se foi pelas águas...Deixei na fazenda os oito quilos de farofa que eu trazia na bagagem desde São Paulo. Enquanto o Antônio Carlos ficava na fazenda, o Araújo e eu fomos até Maceió, onde há um camping Clube do Brasil. A Secretaria de Turismo de Alagoas dá um passe para você entrar no camping como se fosse sócio, pagando a taxa mínima (US$4,00). Como sempre, o guarda nos olhou com cara de quem comeu e não gostou...

           A noite fomos dançar forró nas boates dos hotéis de luxo. O meu fígado ficou reclamando bastante. No dia seguinte, mandei pelo correio todo o material inútil que levamos: lampião, fogareiro, panela, talheres, etc. De agora em diante, viajamos mais "leves". Á noite, mesmo programa, mesmo protesto do fígado. Mais um dia em Maceió: fomos numa oficina para regular as válvulas da XL do Antônio Carlos, que parecia uma batedeira elétrica. Decidimos partir no dia seguinte.

 

               Na hora de sairmos, chegou o Marcos e a Cida, bastante traumatizados por dois tombos levados em Salvador. Demos forças a eles, e eles resolveram continuar com a gente. Mal rodamos 100 quilômetros, fura um pneu da CB do Marcos. Ele disse que se virava sozinho, e fomos embora até o Recife, onde não paramos.

        Passamos por Olinda, e à noite chegamos em João Pessoa. Como o camping clube do Brasil não tinha convênio com a Secretaria de Turismo, ficamos num hotel quase em frente do famoso Hotel Tambaú, quarto para duas pessoas US$16,00, com ventilador. Conhecemos o Dr. Jader, que é tio do paraibinha, o piloto de cross. De manhã tomamos o café no hotel (incluído na diária), e demos uma olhada no óleo das motos: a de Antônio Carlos estava sem um pingo. Como era domingo, demoramos para encontrar óleo- o Jader nos ajudou: ele é um dos líderes do motociclismo em João Pessoa. Ficamos tomando muita cerveja juntos. Os motoqueiros de lá são muito unidos, não há discriminação entre 125, 250, 400, o que for...

        No dia seguinte- já estamos há 18 dias na estrada –o Antônio Carlos acorda meio verde, e eu amarelo, devemos ser muito patriotas...Chegam finalmente o Marcos e a Cida, ficamos todos dormindo nas cadeiras tipo beira de piscina. O gerente do hotel não entendeu, pagamos a conta ás 7 horas, e levantamos das cadeiras ao meio-dia, quando o efeito das caipirinhas e das cervejas do dia anterior tinha baixado a um nível seguro para uma boa navegação pela BR 101.

        De João Pessoa até Natal é uma reta só. Em Natal, como era cedo, decidimos continuar ate Mossoró. O Marcos reclamou que a Cida estava cansada, não era para menos. Ambos estavam feridos por causa dos tombos, além do que andar de garupa é bem mais cansativo do que sem. Tiramos o chapéu para os dois, foi muita coragem. Em Açu, paramos num posto para reabastecer as motos e os estômagos, e percebemos que o posto tinha um dormitório bem confortável e por menos de US$4,00 por pessoa. Já que íamos dormir ali mesmo, os fígados tiveram que agüentar mais um pouco.

        Acordamos bem cedo, fomos para Mossoró, onde todo mundo foi para o seu respectivo banco retirar dinheiro. O Antônio Carlos parou na frente do seu banco, onde era proibido parar, mas o guarda ficou de olho na moto porque em volta dela juntaram-se umas 50 pessoas.

 

                Quando juntamos as três motos, o número de curiosos passou para 100... Saímos em direção ao Ceará. Fomos até Aracati, na praia de Canoa Quebrada onde se pode alugar uma rede para dormir. A paisagem era simplesmente lindíssima. Na praia de Marjolândia, alugamos um apartamento de dois quartos, cozinha e sala por US$20,00 para os quatro (tínhamos perdido o Araújo em Maceió para uma namorada....) e fomos tomar umas cervejas com tira-gosto de peixe.

        Havia um jeque por ali, e o Antônio Carlos apostou duas cervejas que eu não montaria nele. Fui lá, montei no jegue que saiu pulando por todos os lados e entrou num barzinho–por onde ele entrou eu não passava. O pessoal saiu correndo e eu caí em pé. Aí o Antônio Carlos apostou mais duas cervejas que montaria num porquinho que passava ali na praia; saiu com o Marcos correndo atrás do porquinho. Nunca na minha vida ri tanto; o pessoal nativo se rolava de rir; foi um sarro monumental...

        No dia seguinte, acordamos com o Araújo na porta do apartamento. Tinha dormido em Canoa Quebrada, e ouviu falar que haviam motos em Marjolândia, e veio conferir. Pela primeira vez "iríamos" viajar os cinco juntos. Digo iríamos porque o Antônio Carlos resolveu pedir um desenho, com areia dentro de uma garrafa, da tatuagem que tem no braço. Perdi a paciência e fui embora sozinho. Passei por Aracati e fui até Fortaleza pela beira do mar. Cheguei direto a famosa praia do Futuro, onde a casquinha de caranguejo não perdeu a qualidade. Fui para o camping do Professor, e as cinco da tarde chegaram os outros quatro. A tatuagem da águia parecia mais um urubu....

 


O TREM DE VOLTA

        No dia seguinte, o Antônio Carlos, foi para a estação ferroviária informar-se para viajarmos de trem até Juazeiro do Norte. Depois de muita conversa, ficou acertado que cada moto pagaria US$25,00 cada moto e mais US$12,00 cada passagem de primeira classe. Aproveitamos o resto do dia para fazer compras e despachar as barracas e o resto do material em excesso, que não servia para nada. Á noite fizemos um churrasco, e discutimos sobre a rota a seguir a partir de Juazeiro do Norte: passaríamos por Brasília e Belo Horizonte.

 

              Embarcamos a tarde. A cerveja custava US$1,50, e depois de chamarmos o chefe do trem passou a custar para a gente U$1,00. A cada hora, o trem parava numa estação. No dia seguinte, as 9 da manha, estávamos em Juazeiro no Norte. Tiramos as motos e fomos ver a estátua do padre Cícero; realmente vale a pena, para quem tenha ou não fé. Visitamos também a feira dos pássaros; ali se vende e se troca de tudo.

        Finalmente pegamos e estrada até Crato e depois até a famosa Exu, onde não ficamos apesar dos visitantes serem bem-tratados desde que não pertençam a nenhuma das duas famílias em briga.Tocamos até Petrolina, a beira do São Francisco, onde achamos um hotel que cobrou US$6,00 por pessoa. O tipo do hotel não interessa muito, o que importa é o preço barato, e que as motos fiquem dentro do hotel com segurança. Caso contrário o hotel não presta.

        A noite fomos até o lado baiano (Juazeiro) visitar umas boates. No dia seguinte fomos assistir uma corrida de cross. Os alto-falantes berravam aos quatro cantos que estava presente o pessoal da revista MOTOSHOW: Antônio Carlos disse que estávamos fazendo uma reportagem para a revista, e eles entenderam que nós éramos da revista. O inspetor geral da Honda no Nordeste nos colocou a disposição todas as concessionárias por onde iríamos passar para qualquer tipo de assistência técnica. A ele nosso muito obrigado pela gentileza, assim como a todo o pessoal da corrida.

        Em Juazeiro compramos aquelas carrancas de madeira que os barcos do rio São Francisco levam na proa para espantar os maus espíritos. Como achei barato, comprei duas grandes e duas pequenas, e lá vai carga nas motos...Como começou a chover, paramos em Capim Grosso, enquanto Araújo voltou para Salvador, para ver a namorada.

        No dia seguinte (25 de setembro), chegamos em Rui Barbosa, de onde despachamos a metade das coisas pelo correio. Só não foram as carrancas, pesadas demais. Rodamos 820 quilômetros, e fomos dormir em Barreiras, a 740 quilômetros de Brasília. De Rui Barbosa até Brasília, a rodovia (BR242) é uma reta só, com bom asfalto, porém bastante desanimadora e muito chata. Minha moto teve um pneu furado; foi um trabalho e tanto consertar, debaixo de um sol de lascar. Paramos a beira de um rio muito lindo e decidimos descansar por uma ou duas horas. Acabamos chegando em Brasília as 22 horas e fomos dormir na casa do Tio da Cisa, gente fina.

 

         Acordamos cedo e fomos para o centro de Brasília tirar as fotos de praxe: catedral, monumento JK, Palácio do Planalto, etc. Em seguida, abrimos o gás rumo a Belo Horizonte. Depois de atravessar mais uma vez o rio São Francisco, paramos para visitar a Gruta do Maquiné, que é algo fantástico de se ver, com uma história muito bonita, quem for naquela região deve obrigatoriamente ir até lá e visitar.

             Chegamos em Belo Horizonte as 17 horas, e fomos procurar o Moacyr, que é representante da Endurance ( firma do Antônio Carlos), em Minas Gerais. Acabamos dormindo num motel. No dia seguinte acordamos tarde, e fomos andando devagar, pois a XL do Antônio Carlos dava sinais de cansaço, decidimos passar a última noite de estrada em Três Corações. E finalmente no dia 29 de setembro chegamos em São Paulo as seis da tarde. A Shalma (mulher do Antônio Carlos, grávida de seis meses) e a Sílvia (minha mulher) mandaram fazer uma faixa de Boas-vindas. Após de 29 dias de viagem, foi uma boa surpresa para nós. Abrimos a Champanhe. Enquanto o Antônio Carlos conversava com a mulher dele, acompanhei o Marcos e a Cida até Santos de onde saí dois dias depois para minha casa em Florianópolis: ainda tive 740 quilômetros a fazer.

        Viajando sozinho, você anda mais, para onde quer, porém é mais chato do que a dois ou- no máximo- a três (mais não dá, não aconselho). É claro que surgem brigas, ás vezes, mas a amizade fala mais alto, e a cervejinha da paz sempre ajuda....

FIM